Alergia Alimentar: Desafios, Reatividade Cruzada e Necessidade de Conscientização


 

Alergia Alimentar: Desafios, Reatividade Cruzada e Necessidade de Conscientização

 

Alergia alimentar é definida como um efeito adverso à saúde, decorrente de uma resposta imunológica específica desencadeada por um alérgeno (antígeno), que ocorre de forma reprodutiva na exposição a um determinado alimento (BOYCE et al., 2010). Geralmente, 5% dos adultos e 8% das crianças são afetados, comprometendo aproximadamente 10% da população ocidental, sendo que nove grupos de alimentos (amendoim, leite, crustáceos, nozes, peixe, soja, trigo ovo e gergelim) são responsáveis por cerca de 90% das alergias alimentares (CHAFEN et al., 2010; WINKLE; CHANG, 2014). No entanto, alergias aos vegetais, frutas, sementes e outros grãos também podem existir (DEBROSSE et al., 2011; WINKLE; CHANG, 2014).

Os casos de alergia alimentar têm impacto significativo tanto para os pacientes e suas famílias quanto para o sistema médico, em razão de frequentes visitas aos postos de atendimento médico de emergência e internações devidas à anafilaxia, que pode ser fatal. Os órgãos atingidos são a pele e mucosas, aparelho respiratório, trato gastrintestinal e sistemas cardiovascular e nervoso central (BERND et al., 2006; COLVER et al., 2005; ROSS et al., 2008; SILVA et al., 2008).

Em alguns grupos de alimentos, como castanhas e frutos do mar, a alergia a um determinado componente do grupo pode implicar em reações aos demais, o que é denominado reatividade cruzada. Isto ocorre devido à similaridade da sequência de aminoácidos entre certas proteínas e ao fato de que os mesmos anticorpos IgE podem reconhecer alérgenos homólogos de espécies diferentes, mas que partilham os mesmos epítopos, que são as regiões que interagem com os anticorpos e que, portanto, são capazes de estimular resposta imunológica. Desse modo, a semelhança entre uma proteína e um alérgeno conhecido pode ser um importante fator de risco para o desenvolvimento de alergias alimentares, devido à sensibilização inicial ou primária (HOLGATE; CHURCH; LICHTENSTEIN, 2006).

Aproximadamente 30-50% dos indivíduos alérgicos ao látex da Hevea brasiliensis (seringueira) apresentam hipersensibilidade associada a alguns alimentos derivados de plantas, especialmente frutas consumidas frescas. Frutas como o abacate, mamão, maracujá, manga, banana, figo, melão, pêssego e kiwi, e alguns vegetais como tomate e batata contém proteínas que podem causar reações cruzadas com o látex. Este fenômeno é chamado de síndrome látex-fruta. (BEEZHOLD et al., 1996; WAGNER e BREITENEDER, 2002). A heveína, uma importante proteína do látex, denominada como “major allergen”, possui uma sequência de aminoácidos contendo 50% de similaridade quando comparada às quitinases de algumas frutas como a banana e o abacate (RIHS et al., 2012). Dessa maneira, pessoas alérgicas ao látex podem desenvolver alergia também a estas frutas citadas acima.

Como podemos observar, a alergia alimentar é de extrema importância e deve ser divulgada mais profundamente entre a população, já que pode causar anafilaxia e levar à óbito. A pesquisa em relação a novos alérgenos alimentares e sua inclusão em testes de diagnóstico tornam-se imprescindíveis para que tenhamos cada vez mais conhecimento nessa área e que possa ser divulgado de maneira efetiva, ajudando a população em geral, os que são responsáveis pelo diagnóstico e pacientes que sofrem com esse efeito adverso à saúde.

REFERÊNCIAS

Beezhold, D.H.; Sussman, G.L.; Liss, G.M.; Chang, N.S. Latex allergy can induce clinical reactions to specific foods. Clin. Exp. Allergy. 1996, 26, 416–422.

BERND, L. A. G. et al. Anafilaxia: guia prático para o manejo. Revista Brasileira de

Alergia e Imunopatologia, v. 29, n. 6, p. 283-291, 2006.

BOYCE, J. A. et al. Guidelines for the diagnosis and management of food allergy in the United States: report of the NIAID-sponsored expert panel. Journal of Allergy and Clinical Immunology, v. 126, n. 6, p. 1105-1118, 2010.

COLVER, A. F. et al. Severe foodallergic reactions in children across the UK and

Ireland, 1998–2000. Acta Paediatrica, v. 94, n. 6, p. 689-695, 2005.

CHAFEN, J. J. et al. Diagnosing and managing common food allergies: a systematic review. Journal of the America Medical Association, v. 303, n. 18, p. 1848-1856, 2010.

DEBROSSE, C. W. et al. Long-term outcomes in pediatric-onset esophageal eosinophilia. Journal of Allergy and Clinical Immunology, v. 128, n. 1, p. 132-138, 2011.

HOLGATE, S. T.; CHURCH, M. K.; LICHTENSTEIN, L. M. Allergy. Third Edition. Mosby Elsevier, 2006.

Rihs, H.P.; Lotz, A.; Rueff, F.; Landt, O.; Bruning, T.; Raulf-Heimsoth, M. Impact of interleukin-13 and -18 promoter polymorphisms in health care workers with natural rubber latex allergy. J. Toxicol. Environ. Health A 2012, 75, 515–524.

ROSS, M. P. t al. Analysis of food-allergic and anaphylactic events in the National

Electronic Injury Surveillance System. Journal of Allergy and Clinical Immunology, v. 121, n. 1, p. 166-171, 2008.

SILVA, I. L. et al. Paediatric anaphylaxis: a 5 year retrospective review. Allergy, v.

63, n. 8, p. 1071-1076, 2008.

Wagner, S.; Breiteneder, H. The latex-fruit syndrome. Biochem. Soc. Trans. 2002, 30 Pt 6, 935–940.

WINKLE, R. C. V; CHANG, C. The Biochemical Basis and Clinical Evidence of Food

Allergy Due to Lipid Transfer Proteins: A Comprehensive Review. Clinical Reviews

in Allergy & Immunology, v. 46, n. 3, p. 211-224, 2014.