ILSI em Foco – maio/2021 – Entrevista 1

O ILSI Brasil conversa com o Professor João Ernesto de Carvalho (Unicamp) sobre as principais evidências científicas que comprovam os benefícios do uso de extratos botânicos para a saúde humana.

ILSI Brasil: Como o consumo de alimentos de origem vegetal pode contribuir para a prevenção das doenças? 

João Ernesto: Atualmente, existe um consenso entre as principais instituições de saúde, associações científicas e a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a importância do consumo regular de alimentos de fontes vegetais, como frutas, legumes, hortaliças, cereais, grãos, arroz, massas ou feijões, com limitação do consumo de alimentos ricos em gordura, particularmente de origem animal, dando preferência a carnes magras.

São recomendações aplicáveis tanto para a redução de risco de câncer, como também de doenças do sistema cardiovascular, que são as responsáveis pelos maiores índices de mortalidade da população.

 

IB: Como é, hoje, no Brasil, o consumo de alimentos vegetais e qual o ideal para adultos e crianças?

JE: De acordo com a ACT-Promoção da Saúde, somente 23% da população brasileira consegue fazer o consumo de cinco porções diárias, pelo menos em cinco dias da semana, de frutas, verduras e hortaliças, sendo que o consumo aumenta de acordo com o grau de escolaridade. Além da escolaridade, o fator renda é preponderante, pois os custos para manter esse tipo de alimentação são muito elevados.

Evidentemente estamos muito aquém do desejável e, considerando a crise pela qual estamos passando, com elevado empobrecimento, haverá uma redução significativa da população que conseguirá atingir e manter esses objetivos.

 

IB: O Brasil é um país rico em biodiversidade. Como funciona a regulamentação para o uso destes recursos?

JE: O Brasil tem uma legislação que dispõe sobre os usos da biodiversidade brasileira pela ciência e pela cadeia produtiva, na Lei 13.123, de 20 de maio de 2015, conhecida como Lei da Biodiversidade. Suas normas definem “o acesso ao patrimônio genético, proteção e acesso ao conhecimento tradicional associado e, a repartição de benefícios para a conservação e uso sustentável da biodiversidade”. O Decreto nº 8.772, de 11 de maio de 2016, regulamentou a Lei nº 13.123, e criou o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado – Sisgen. Este, por sua vez, auxilia o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGen na gestão do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado, viabilizando a aplicação da lei.

 

IB: Que evidências científicas podemos destacar para o uso de extratos vegetais como fonte de compostos bioativos que trazem benefícios à saúde humana?

JE: Os estudos clínicos sobre os benefícios à saúde de compostos bioativos são muito longos, muitas vezes com duração de décadas, e, consequentemente, com custos elevados. No entanto, uma busca na literatura científica irá encontrar trabalhos demonstrando os benefícios à saúde de muitos extratos ricos em flavonoides e polifenóis, carotenoides e glicosinolatos. Entre eles, trabalhos demonstrando o potencial de extratos de tomate, ricos em licopeno, na redução de risco de alguns tipos de câncer, assim como de extratos de chá verde (chá) na redução de risco de doenças do sistema cardiovascular e de alguns tipos de câncer também. Muito provavelmente, nos próximos anos teremos acesso aos resultados de outros estudos que tiveram início há muito tempo, com outros produtos vegetais ricos em ingredientes ativos

 

IB: Gostaria de acrescentar algo mais sobre o tema?

JE: Além da rica biodiversidade brasileira, que está sob ameaça, o Brasil possui populações indígenas e quilombolas com uma riqueza enorme, que também vem sendo eliminada sistematicamente, desde a invasão europeia há mais de quinhentos anos. Cerca de 75% dos medicamentos isolados de espécies vegetais, foram desenvolvidos a partir do conhecimento obtido pelas populações ancestrais. Portanto, o respeito e a preservação desse conhecimento são fundamentais para a descoberta e desenvolvimento de novos produtos de origem vegetal.

 

Sobre o Prof. João Ernesto de Carvalho

Graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), onde obteve os títulos de mestre e doutor em farmacologia de produtos naturais. Livre Docente pelo departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Unicamp e atualmente é professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, onde foi diretor no período de 2014-2020. Foi membro da Câmara de Fitoterápicos e da Câmara de Alimentos da ANVISA, onde foi membro também da comissão de alimentos com propriedades funcionais e ou de saúde (CTCAF) entre 1999-2015. Trabalha com pesquisa farmacológica e toxicológica no desenvolvimento de medicamentos e alimentos.