ILSI em Foco – maio/2021 – Entrevista 2

O ILSI Brasil conversa com o Coordenador Científico da Força-Tarefa Nutrientes e Suplementos Alimentares, Dr. Helio Vannucchi (USP) sobre os benefícios da Vitamina D à saúde humana e sua suplementação.

ILSI Brasil: A associação da Vitamina D ao sol é bem comum. Como exatamente a luz solar interfere nas funções desta vitamina no organismo humano? 

Helio Vannucchi: A fotobiogênese de vitamina D é muito eficiente, sendo que a exposição à luz solar (radiação ultravioleta – 282 nm) durante 15-30 min por dia, por exemplo, entre 8 – 10h da manhã, garante a síntese de mais de 80% da quantidade necessária de vitamina D para a maioria dos adultos. Crianças e adolescentes em exposição à luz solar por 2 ou 3 vezes por semana sintetizam toda a quantidade recomendada. Em idosos, a capacidade de síntese através da pele é limitada o que pode levar a diminuição dos níveis séricos da vitamina. A eficácia dessa síntese pode depender de vários fatores, como cor da pele, latitude, altitude, época do ano, uso de protetor solar e poluição ambiental. O restante deve ser oferecido pela alimentação diária.

 

IB: Quais são as principais funções da Vitamina D na saúde humana? 

HE: Juntamente com o paratormônio (PTH), ambos atuam como importantes reguladores da homeostase do cálcio e do metabolismo ósseo das células ósseas.

A vitamina D3 estimula a absorção intestinal de cálcio e o paratormônio estimulam a reabsorção renal e a mobilização de cálcio dos ossos. Além de estimular a diferenciação celular, a vitamina D é tida como modulador do sistema imunológico, garantindo imunidade celular inata, e participa da função cardíaca e controle da pressão arterial.

 

IB: Em que casos é recomendada a suplementação de Vitamina D?

HE: Ressaltamos que a suplementação não tem fundamentação cientifica, quando se considera a população em geral. Pontuamos a seguir:

  • Existem várias situações clínicas em que a suplementação está plenamente indicada (doenças intestinais, renais, autoimunes, entre outras), desde que constatada a deficiência e com seguimento laboratorial, para evitar a hipervitaminose.
  • Em situações em que houver diagnóstico de ingestão abaixo dos valores recomendados para os vários grupos populacionais ou quando a exposição ao sol estiver comprometida e ou insuficiente. Crianças, adolescentes, grávidas e idosos estão incluídos entre os grupos vulneráveis. A suplementação deve ser prescrita por profissionais da saúde capacitados para avaliar o paciente como um todo. O importante sempre é prevenir estados de deficiência. No Brasil não existe programa de fortificação compulsória de alimentos com vitamina D.

 

IB: De que outras fontes, pode-se adquirir a dose necessária diária de Vitamina D? E qual é esta dose? 

HE: É recomendado o consumo de 600 UI (15ug) diárias do nutriente para adultos, através de fontes alimentares e 800 UI (20 ug) para idosos. As fontes alimentares mais significativas estão entre alguns peixes como salmão, sardinha, arenque e atum. Alguns estudos no Brasil sugerem que a ingestão alimentar de vitamina D não atinge plenamente as recomendações diárias.

 

IB: Gostaria de acrescentar algo mais sobre o tema ou algum alerta sobre a sua suplementação? 

HE: Atualmente existe grande interesse na pesquisa dos efeitos extraesqueléticos da vitamina D (mortalidade, cardiovasculares, diabetes, câncer, doenças autoimunes, função cognitiva). Entretanto, no momento ainda não é possível comprovar relação causa-efeito.

A vitamina D, quando ingerida em excesso pode causar aumento exagerado de íons de cálcio que quando depositados nas artérias e em órgãos como o rim, podem causam lesões permanentes. Além disso, o indivíduo intoxicado por esse nutriente em excesso pode apresentar sintomas como confusão mental, cefaleia, náuseas, vômitos e aumento da pressão arterial. Polimorfismos genéticos são grandes contribuintes na heterogeneidade nas manifestações clínicas da hipovitaminose D.

Ainda não foi cientificamente mostrado que a vitamina D é útil na prevenção da infecção, na redução da progressão da doença e na redução da mortalidade em pacientes com COVID-19.

A vitamina D suplementada aos pacientes gravemente doentes com COVID-19 não diminuiu as chances de exigir ventilação mecânica ou evoluir para óbito. Em termos de tratamento com vitamina D, um estudo publicado este ano no JAMA, (Muraie cols, da Universidade de São Paulo, Brasil) constatou que uma única dose alta de vitamina D3 dada após internação a pacientes de moderados a graves com COVID-19 não reduziu significativamente o tempo de permanência hospitalar em comparação com pacientes tratados com placebo.

 

Sobre o Dr. Helio Vannucchi:

  • Professor Titular Senior– Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.
  • + de 300 publicações científicas na Área da Nutrição
  • Fundador e Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição – SBAN (1987 – 93).
  • Ex-Presidente da Sociedade Latino-Americana de Nutrição – SLAN (2006 -08)
  • “Living Legend” conferido pela International Union of Nutritional Sciences – IUNS (2013)
  • Honra ao Mérito conferido pela Associação Brasileira de Nutrologia -ABRAN (2017)