ILSI em Foco – dezembro 2021 – Entrevista

Retrospectiva 2021 e os novos planos do ILSI Brasil para 2022

Entrevistamos Deise Capalbo, pesquisadora Embrapa Meio Ambiente e membro da diretoria do ILSI Brasil, para contar um pouco sobre a XI Reunião Anual do ILSI Brasil, cujo tema foi “Construindo sociedades resilientes”. Ela aproveitou o papo e fez uma retrospectiva 2021 da atuação do Instituto, além de nos revelar os planos para o próximo ano.

IB: Como foi a realização da “XI Reunião Anual” dentro do atual cenário pandêmico?

DC: O evento cumpriu o objetivo do ILSI, que é estimular a discussão e aplicação da ciência em temas que visam à melhora da saúde e do bem-estar público e preservação do meio ambiente. Porém este ano esteve mais voltado para o tema da “resiliência”, orientada pelo retorno às atividades de forma mais intensivamente presencial que apenas virtual, num futuro cada dia mais próximo.

A pandemia quando chegou, nos tirou da rotina e jogou alguns de nós para dentro de casa, enquanto para outros fez pior e os jogou num ambiente de alto risco, como é o caso dos profissionais da área de saúde. Isso mexeu com nosso dia a dia de trabalho, alimentação, organização do tempo na nova rotina, e ainda trouxe o desafio do encararmos o isolamento – com reflexos na saúde mental e física. Até a frequência do nosso acesso às informações foi alterada, pois tínhamos urgência de saber quando sairíamos disso tudo. E mais. Precisávamos manter a esperança na descoberta de uma vacina que nos levaria de volta ao normal.

“Construindo sociedades resilientes” – tema que elaboramos para a Reunião Anual, reflete o que todos nós desejamos e precisamos para seguir seguros e não perdermos nem o foco nem o ânimo. Buscamos palestrantes de diversas áreas de formação e atuação, reconhecidos e com vasta experiência, para poder partilhar suas perspectivas de forma sucinta e clara, cientifica e facilmente digerível. E conseguimos!

Assim, abordamos o gerenciamento do tempo – assertividade e adaptação aos novos tempos, na pandemia e no pós-pandemia; a vacina – ciência e tecnologia unidas, com representatividade do Instituto Butantã, certamente, além de um especialista para nos apresentar a ciência e a pesquisa clínica, ambas responsáveis por garantir a segurança de uso de novos produtos de saúde. Também falamos a respeito de alimentos – sustentabilidade na produção e segurança ambiental; e sobre fake News, como evitar e como apurar os fatos.

Se pudéssemos sintetizar em poucas palavras cada um dos temas abordados, eu diria que quanto ao gerenciamento do tempo, aprendemos sobre a importância de definir e priorizar as ações de maior valor. Em relação às vacinas, a união da ciência com a tecnologia para gerar imunizantes durante a pandemia foi um acontecimento extraordinário. Na esteira da temática, sublinho: a vacinação é uma ação coletiva.

Acerca dos desafios da pesquisa clínica, a melhoria da educação e recursos mais modernos são os pontos críticos a serem atacados urgentemente no Brasil, uma vez que a pesquisa clínica garante a segurança de uso de novos produtos de saúde, sejam medicamentos ou vacinas. No que diz respeito aos sistemas alimentares, eles precisam ser reorganizados e a ciência precisa dar apoio para torná-los viáveis. Já os impactos da pandemia no meio ambiente são, até o momento, imensos (considerando o incremento de produtos descartáveis e não degradáveis a curto prazo, por exemplo) e somente uma atenção séria ao cenário e o aporte de conhecimento científico podem trazer luz a médio prazo. Sustentabilidade e resiliência podem ser eventualmente incompatíveis, mas precisam ser encarados com seriedade. Para o enfrentamento às fake News, precisamos ativar nosso senso crítico: o que o texto está informando realmente? A fonte tem conhecimento para afirmar? Pode ser checada? Não podemos repassar se não tivermos tempo de checar.

 

IB: A ciência tem ocupado o centro das discussões desde o início da pandemia, no mundo inteiro. Como a senhora avalia o papel das entidades ILSI neste contexto, em relação ao fluxo do conhecimento entre os países?

DC: O ILSI não trabalha sozinho e não considera que ele, por si, solucionará problemas do mundo. Já a ação integrada entre os três pilares básicos de sua constituição – academia, governo e indústria – poderá, sim, fazer a diferença. Desta forma, dando o devido destaque às contribuições da ciência para soluções de problemas apresentados pela pandemia, o ILSI, como um todo, buscou com dedicação o desenvolvimento de suas atividades mirando sempre o aperfeiçoamento de tal relação.

No Brasil, presenciei o esforço das equipes para identificar os pontos críticos que a pandemia nos apresentaria (e ainda apresentará). Em consonância com o desenvolvimento industrial, identificar pontos passíveis de solução e seus potenciais atores-chave. Os órgãos governamentais adequados sempre foram chamados a apresentar suas reflexões assim como para conhecer os resultados oferecidos pelas ações do ILSI, visando apoiá-los na sua atuação em favor do bem-estar dos brasileiros.

A interação entre países nas entidades ILSI está crescendo e buscando, cada vez mais, a sintonia perfeita. Todas as entidades focaram no enfrentamento à pandemia em suas diferentes frentes, porém respeitando as prioridades de cada região, especialmente características culturais para poder harmonizar soluções – nem sempre fácil e nem sempre factível a curto e médio prazos.

Para ter uma ideia dos temas discutidos pelas entidades ILSI do mundo, referente ao tema da COVID19 e pandemia, relaciono: saúde física; alimentos (alergênicos, funcionais, segurança, delivery e higiene); imunidade; saúde mental; biotecnologia e vacinas; riscos dietéticos no dia a dia e para atletas de alta performance; aleitamento materno; comunicação responsável da ciência e da saúde. O grande desafio para o ILSI, como um todo, segue sendo conseguir que seus resultados regionais sejam mais impactantes no âmbito mundial.

 

IB: Qual aprendizado a pandemia trouxe para o Instituto?

DC: No Brasil a pandemia nos levou a rediscutir, como prioridade, a estrutura já enxuta do quadro do ILSI e a importância do local físico de referência como sede. Após meses de pandemia, definimos que o teletrabalho (home office) seguirá sendo o modelo vigente por muito tempo e as reuniões seguirão sendo prioritariamente em ambientes virtuais. Mas a realocação de nossa sede para um escritório virtual seria o mais adequado. Nesse último caso, optamos por um escritório virtual em ambiente profissional e corporativo para tornar mais eficiente nosso trabalho, com salas de reuniões de tamanho apropriado para eventuais reuniões presenciais do ILSI Brasil, além de recepção, café, copa e varandas de uso livre. Assim, mantemos a eficiência tecnológica (talvez até mais apurada) e reduzimos, a médio prazo, as despesas de locação. Outro aprendizado vem sendo a realização de eventos virtuais, incluindo o uso de plataformas variadas para os encontros – inclusive com tradução simultânea. Podemos também citar nosso foco em abordar temas que permeiam as expertises de nossos especialistas e nos permitem um trabalho de revisão de riscos iminentes e soluções disponíveis ou em desenvolvimento nas instituições de pesquisa nacionais e internacionais.

 

IB: Fazendo uma retrospectiva, quais pontos do ILSI Brasil a senhora destacaria em 2021?

DC: Além do que já mencionamos, refletimos sobre nosso papel durante a pandemia (como membros da comunidade e como instituição) e sobre como nos tornarmos mais resilientes. Destacaria que estamos, em 2021, em pleno desenvolvimento de um planejamento estratégico de âmbito mundial, com um detalhamento de Brasil. As reflexões acerca de nossa estrutura, metas, atividades e fluxo de organização em Forças Tarefas (FT), bem como os papeis da Diretoria e do Conselho Científico nos enveredaram por outras ações, o que inclui revisões e reordenações. Possuímos atividades em andamento e que até já apresentam alguns resultados. Cito o estabelecimento e/ou fortalecimento de novas ou mais interações com outras entidades ILSI (global) e alinhamento mais claro dos objetivos e posicionamentos das FTs.

O posicionamento do ILSI não deve ser reativo, mas proativo. Por isso as FTs estão produzindo textos esclarecedores em relação a temas bem atuais e de futuro, que fazem parte de sua expertise e que, certamente, mostrarão à sociedade nossa força como uma Instituição responsável por promover o conhecimento científico, assim como o devido reconhecimento do papel da ciência, da indústria e do governo na garantia de um futuro melhor para a população brasileira.

 

IB: Quais são as perspectivas do ILSI Brasil para 2022?

DC: O planejamento do ILSI Brasil para 2022 está sendo concluído nesse momento da entrevista, e posso dizer que daremos seguimento, seguramente, às prioridades levantadas durante os eventos e discussões realizados em 2021, nas esferas nacional e internacional. Nosso planejamento segue sendo estratégico: objetivos claros, ações definidas e coordenadas, resultados mensuráveis e de impacto para aumentar nosso bem-estar no planeta. Acreditamos que – como o resto do mundo – ainda teremos percalços financeiros e inseguranças quanto ao retorno de atividades e reuniões presenciais. Vários painéis ao longo do ano nos apontaram que apesar dos significativos avanços com relação ao controle da COVID19, ela não está superada e há sérias possibilidades de termos novas ondas de variedades mais resistentes que poderão nos impactar, mesmo com elevadíssimo percentual de vacinação em todo o país. Isso posto, vamos nos dedicar a identificar e convidar os expoentes nas discussões nacionais e mundiais para nos oferecerem seus achados e, juntos – academia, indústria e governo – seguirmos buscando melhor qualidade de vida e menos impactos ao nosso ambiente já tão prejudicado.