Biotecnologia em nossas vidas: alimentos e vacinas

Sessão Virtual, Brasil
27/10/2021
18:30 – 20:30
Zoom webinars

Biotecnologia aplicada em alimentos e vacinas está presente no cotidiano e assegura importantes avanços para a sociedade

 

Seja em nossa rotina alimentar ou em processos de imunização, a biotecnologia é realidade constante e necessária para a saúde humana

 

A Força-tarefa Biotecnologia realizou, no dia 27 de outubro, o Webinar “Biotecnologia em nossas vidas: alimentos e vacinas”. No encontro, foi abordada a contribuição da biotecnologia para o desenvolvimento humano e da sociedade, em palestras ministradas pela Dra. Luciana Leite (Instituo Butantan), Dra. Alda Lerayer (HeLe Consulting) e Dra. Natalia Pasternak (Instituto Questão de Ciência). Coordenado pela Dra. Patrícia Fernandes (UFES) e Dra. Adriana Gianotto (CTC), o evento contou com a moderação da Dra. Maria Sueli S. Felipe.

 “Eu costumo dizer que a biotecnologia está no prato e na veia também”, iniciou a moderadora. “Em outras palavras, a biotecnologia tem apoiado o desenvolvimento e a produção tanto de alimentos como de vacinas. E a pandemia trouxe esta nova visão sobre o papel positivo da biotecnologia pode contribuir para desfazer questões polêmicas relacionadas à transgenia”, explica a especialista.

Para se ter ideia da importância deste ramo da ciência para o país, o Brasil é um dos maiores exportadores de commodities do mundo. Produtos criados a partir da transgenia permitida pela biotecnologia moderna. Essa evolução do material genético de plantas sustenta quase um terço do PIB brasileiro.

Outra área bastante desenvolvida no país são os imunizantes, destaca a Dra. Sueli. “Possuímos um parque robusto de produção de vacinas e competências. Além de um Programa Nacional de Imunização (PNI) de muito sucesso e que nos dá muito orgulho”, afirmou, antes de passar a palavra para a primeira palestrante.

 

Desenvolvimento de vacinas

Dra. Luciana Leite, do Instituto Butantan, apresentou a história da vacina BCG recombinante, com uma breve explicação acerca dos estágios de estudos. Em sua fala, ela ainda demonstrou a segurança em todo o processo de desenvolvimento de imunizantes até que o produto seja disponibilizado para sua aplicação em humanos.

 A BCG é uma vacina centenária considerada uma das mais seguras e com menor índice de efeitos colaterais. Já foi administrada em cerca de 3 bilhões de pessoas em todo o mundo. “A segurança é uma preocupação que sempre existiu e foi aprimorada ao longo dos tempos. Mesmo após a comercialização, a farmacovigilância continua fiscalizando”, assegura Leite.

A pesquisadora também discorreu quanto aos esforços voltados para o desenvolvimento da BCG recombinante para combater a tuberculose pulmonar, com o uso de organismos geneticamente modificados. Por fim, exibiu a linha de pesquisa de um novo imunizante para a coqueluche neonatal, liberado para a fase de ensaios clínicos em humanos. Entre outros pontos mencionados, a Dra. Luciana falou a respeito das propriedades imunológicas do BCG recombinante e sua prescrição em 70% dos tratamentos do câncer de bexiga.

Ela ainda descreveu os motivos da rápida descoberta da vacina contra a COVID-19. “Havia uma experiência prévia com vírus potencialmente pandêmicos e muito parecidos (SARS 2003 e MERS), que permitiu a combinação de antígeno. Outro fator foi a enorme colaboração das instituições, além dos recursos focados. Sem comprometer as informações de segurança, apesar da aceleração do processo”, informa Dra. Luciana.


Biotecnologia na produção de alimentos seguros e saudáveis


Na sequência, Dra. Alda Lerayer, da HeLe Consulting, palestrou sobre a biotecnologia na produção de alimentos seguros e saudáveis. Ela abordou os avanços e importância dos organismos e das plantas geneticamente modificados. Passando pela segurança ambiental e sustentabilidade, segurança para a saúde humana e animal e, ainda, pelas vantagens para os agricultores e para a economia brasileira.

Lerayer resumiu em dois os fatores primordiais ocorridos na biotecnologia: a descoberta da estrutura do DNA, seguido pela transferência de um gene de um organismo para outro. Ponto principal para que os alimentos mudassem de um melhoramento convencional para uma transgenia.

Nesta direção, ela comentou a respeito da tecnologia do sistema CRISPR-Cas9, considerada uma ferramenta simples, porém poderosa, para a edição de genomas, por permitir alterar as sequências de DNA e modificar a função genética com facilidade.

“Assim acontece a correção de defeitos genéticos, o tratamento e a prevenção da propagação de doenças, além da melhoria das plantas e microrganismos. CRISPRs são trechos especializados de DNA, enquanto a proteína Cas9 é uma enzima que age como um par de tesouras moleculares, capaz de cortar fitas de DNA”, explica a pesquisadora.

Atualmente, quase todos os alimentos industrializados usam enzimas, ou uma combinação delas, em seus processos. A utilização de microrganismos geneticamente modificados na indústria alimentícia traz um enorme benefício ambiental, de acordo com a Dra. Alda, que citou um estudo em referência à economia de produtos químicos, energia e água com o uso de uma quantidade pequena de enzimas: 1 kg de enzimas equivale a 100 kg de redução de CO2.

 

Percepção de Risco.

 

Fechando o encontro, a Dra. Natalia Pasternak, do Instituto Questão de Ciência, falou sobre percepção de risco, um tema necessário e de extrema relevância na atualidade. “Na pandemia, percebemos que comunicar o risco e, principalmente, identificar a percepção do risco é essencial para o sucesso da comunicação com a sociedade. Para que ocorra a aceitação da inovação e do desenvolvimento científico”, pontua a pesquisadora.

O conteúdo ministrado por Pasternak apoiou-se na tríade risco, perigo e precaução. Para ela, a educação científica é uma questão a ser revista globalmente, já que o ensino de ciência, além de conteudista, está muito baseado em certo e errado, no sim ou no não. “Os alunos são cobrados a passar no teste de ciência acertando ou errando a questão. Mas a ciência não é binária, nem a construção do conhecimento. A ciência apresenta probabilidades. Como cobrar uma percepção correta dessa população no futuro?”, questiona.

Comunicar com clareza os conceitos de perigo e risco, a diferença entre possibilidade e probabilidade dos riscos, utilizando gráficos e fazendo comparativos com situações do cotidiano das pessoas é o caminho apontado pela cientista para educar a população, quando o assunto é avanço tecnológico e biotecnologia. “A sociedade possui uma percepção de risco emocionalmente distorcida e mal dimensionada. Assim, a avaliação de um medicamento, uma vacina ou de um alimento geneticamente modificado ocorre pelo lado emocional”, analisa a cientista.

 

 

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