“Infodemia” amplia a negação de fatos estabelecidos pela ciência
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a infodemia torna difícil distinguir conteúdos confiáveis e úteis daqueles baseados em informações falsas. No contexto da pandemia da Covid-19, suas consequências podem gerar impactos negativos na saúde pública.
O jornalista Diogo Sponchiato, Redator-chefe de Veja Saúde, explica o fenômeno da infodemia, tema de sua palestra no II Fórum Argentino e Latino-americano de Comunicação Responsável em Ciência e Saúde, promovido pelo International Life Sciences Institute (ILSI) Latam.
ILSI Brasil: O que é a infodemia?
Diogo Sponchiato: Como definiu a própria OMS, infodemia é uma avalanche de informações, sobretudo, pelos meios digitais, que torna difícil identificar e distinguir conteúdos confiáveis e úteis daqueles baseados em mentiras ou fora de contexto adequado. O fenômeno acompanha a pandemia desde o início, muito em função do próprio desconhecimento do vírus e da doença nos primeiros momentos de enfrentamento à Covid-19.
IB: Como geralmente ela se prolifera?
DS: Pelos mais diversos meios, mas, sobretudo, pelas redes sociais, WhatsApp entre elas.
IB: Quais as consequências da infodemia diante da pandemia da Covid-19 no Brasil?
DS: Ainda faltam estudos robustos mapeando seus impactos, mas dá para dizer que a infodemia amplia a negação dos fatos estabelecidos pela ciência e o alarmismo contraproducente, e atrapalha a adesão da população às medidas de prevenção e proteção contra a Covid-19. Além disso, pode elevar o risco de angústia e problemas emocionais ou agravar transtornos psiquiátricos já existentes.
IB: Durante o Fórum de Comunicação Responsável, o que você observou da infodemia em outros países?
DS: Assim como o Brasil, os outros países latino-americanos sofrem com o problema. A explosão na produção e replicação de conteúdos sobre a Covid-19, muitos infundados, está na gênese do fenômeno mundialmente. Mas acredito que a polarização política e a intromissão da ideologia em questões de foro científico tenham sido mais impactantes, críticas e perniciosas nesse contexto em nosso país.
IB: Quais as principais ferramentas para combater a infodemia? O que cada pessoa pode fazer?
DS: A abordagem é multifocal e multiplataforma. Inclui qualificar ainda mais a imprensa e outros comunicadores para que produzam e distribuam conteúdo de maneira ética, sensível e baseada em evidência, responsabilizar e cobrar em certa medida algumas redes coniventes com fake news e materiais postados visando unicamente ao lucro ou à discórdia e ampliar acesso a uma educação de qualidade — para que a nova geração conheça fundamentos científicos e desenvolva senso crítico e maior capacidade de interpretação em meio a essa avalanche de informações em texto, áudio, vídeo etc.
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Sobre Diogo Sponchiato
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, foi repórter da revista Saúde (Editora Abril), editor da revista Galileu (Editora Globo) e laureado três vezes com o Prêmio Especialistas da Comunicação. Hoje é redator-chefe de Veja Saúde, do Grupo Abril.