ILSI em Foco – março 2021 – Entrevista

Entrevista com a Dra. Marília Nutti (Embrapa), representante do pilar ‘Academia’ no ILSI Brasil:

 

Qual a relação da Academia com a ciência brasileira?

Ao pesquisarmos a etimologia da palavra academia (do grego antigo Ακαδήμεια – transliterado Akadémeia), derivado de Ακάδημος (transliterado Akádēmos – “Academo”), vemos que ela designa várias instituições vocacionadas para o ensino, a cultura e a ciência, nomeadamente as artísticas, literárias, científicas e físicas, filosóficas etc. O termo também pode se referir a qualquer associação de cientistas, literatos ou artistas.

A ciência brasileira sempre foi respaldada pela academia, pois contamos com uma reconhecida gama de instituições de ensino, pesquisa e inovação, que vêm propiciando o progresso do país. Importante ressaltar também o papel das Fundações de amparo às pesquisas (Federais, Estaduais e privadas) que contribuem para o financiamento dos trabalhos.  Poderiam ser citadas contribuições da pesquisa nas áreas de saúde, como desenvolvimento de vacinas e medicamentos; da agricultura, com o desenvolvimento de cultivares adaptados ao estresse biótico e abiótico, sem esquecer as áreas literárias e filosóficas.

Como, ao longo destes 30 anos, o setor Acadêmico tem contribuído para a evolução do ILSI Brasil?  

O setor Acadêmico esteve presente desde a fundação do ILSI Brasil, que contou com professores das principais universidades e profissionais do setor público e privado, que, por serem formados por essas universidades, se aliaram, tornando o ILSI Brasil um fórum para debater questões cientificas de interesse da sociedade brasileira. No decorrer dos últimos 30 anos, houve um crescimento e amadurecimento do ILSI, com a criação de diferentes Forças-Tarefas para cobrir os temas relevantes, como alimentos processados, compostos bioativos, OGMs, entre outros.

Qual o papel do ILSI Brasil, aliado à Academia, para promover uma discussão eficaz sobre os principais temas científicos de interesse da saúde pública e do meio ambiente? 

O ILSI Brasil proporciona um ambiente científico para reunir os profissionais da iniciativa pública e privada, para a discussão de temas prioritários e, por meio da revisão de publicações científicas, seminários e workshops, disseminar informações baseadas em fatos científicos, para a sociedade brasileira. O ILSI é pautado na ciência, sendo que as publicações utilizam como referência artigos publicados em periódicos científicos respeitados e mundialmente reconhecidos.

Como, na era das Fake News, a ciência brasileira pode ajudar a combater notícias inverídicas?

A ciência brasileira tem ajudado a combater as notícias falsas com a divulgação de informações verídicas, baseadas na ciência, além de esclarecer, como no caso da pandemia, a não eficácia de alguns medicamentos que estavam sendo divulgados como eficazes na prevenção da COVID-19.

Durante a pandemia do novo coronavírus, ficou claro, mais do que nunca, o papel da ciência para a sobrevivência humana. Como a Academia vê este cenário? 

As ações do setor acadêmico brasileiro, principalmente na área de saúde, demonstraram a importância desse setor, com o sequenciamento do vírus em tempo recorde, além da participação no desenvolvimento e fabricação de vacinas no país. Muito importante ainda a participação diária de nossos cientistas (especificamente os da Fiocruz e do Instituto Butantã) em diálogos informativos com a população, reforçando a importância de utilizar máscaras, cuidar da higiene e respeitar o distanciamento social. Estudos realizados indicaram, ainda, ser a vacina o veículo adequado para o combate à pandemia, em contraposição à possíveis medicamentos, que apesar de não apresentarem respostas eficazes, estavam sendo indicados para a população.

Gostaria de destacar alguma ação específica do ILSI Brasil nos últimos anos que tenha sido de extrema relevância para o setor? 

Nos últimos 30 anos, o ILSI Brasil realizou a publicação de uma gama de informações em nutrição, alimentos funcionais, segurança alimentar, vida saudável, biotecnologia e agroquímicos, todos relevantes para o setor. Cada uma foi extremamente relevante na sua área. Estes materiais estão disponíveis para conferência no site da Entidade.

Sobre a Dra. Marília Nutti:

Engenheira de Alimentos, Mestre em Ciências de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas, Especialização em Planejamento Nutricional pela Universidade de Ghent, Bélgica e em Estudos do Consumidor pela Universidade de Ghelph, Canadá.  Foi pesquisadora e professora de Planejamento Alimentar e Nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.  Durante 10 anos trabalhou na inciaitva privada  (Nutrícia S.A. Produtos Dietéticos e Nutricionais, Brahma e Unilever. Membro Fundadora do ILSI Brasil, tendo participado da Força Tarefa de Biotecnologia, atualmente membro do  ILSI Global Board of Trustees.  Foi  Chefe Geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos de 1996- 2002,  sendo hoje pesquisadora nesta Unidade da embrapa. Representou  o Brasil no Comitê de Rotulagem de Alimentos do  Codex Alimentarius (Canadá)  desde 1997 a 2010  e na Força Tarefa em Alimentos Obtidos por Biotecnologia do Codex Alimentarius (Japão) 2000 -2008. Membro da Comissão Interministerial para elaboração de portaria sobre Rotulagem de Alimentos Geneticamente Modificados, representando o Ministério da Agricultura e Abastecimento. Fez parte do Painel de Especialistas da FAO/WHO para Segurança Alimentar  de Alimentos Genéticamente Modificados e da Força Tarefa da de Alimentos e Rações Genéticamente Modificados da OECD.   Foi membro do Comitê gestor da Rede de biossegurança da Embrapa (BioSEG) de 2002 a 2008, sendo responsável pela avaliação de segurança alimentar de OGM. Coordenou a Rede   de Biofortificação  no Brasil, de 2005 a 2018. Coordenou o programa HarvestPlus para America Latina e Caribe de 2012 a 2018. Foi Diretora do Programa HarvestPlus para America Latina e Caribe, sedida no CIAT de 2018 a 2020. As linhas de pesquisa e trabalhos publicados (3 livros, 30 capitulos e 30 artigos)  referem-se a  Biofortificação, Segurança Alimentar, Nutrição, Rotulagem e Biossegurança de Alimentos Geneticamente Modificados. Atualmente é o Ponto Focal da Aliança Bioversity Internacional e CIAT para a Embrapa