ILSI em Foco – maio/2020 – artigo

Há riscos no consumo de edulcorantes não calóricos ou de baixa caloria?

Profa. Dra. Hellen Dea Barros Maluly (Farmacêutica e Doutora em Ciência de Alimentos)

 

        Em 2017 e 2019, a Força Tarefa Food Safety do Ilsi Brasil promoveu dois eventos que contaram com a presença de cientistas, organizações governamentais e não governamentais e a indústria de alimentos, com o objetivo de discutir diferentes pontos relacionados ao consumo e segurança de edulcorantes não calóricos ou de baixa caloria.

            Dentro das diferentes abordagens, os palestrantes utilizaram estudos científicos para embasar as discussões, o que gerou um artigo de revisão, publicado na revista Food Science and Technology, veiculada pela Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos1.

Entre os principais pontos de discussão estavam as ações governamentais frente ao crescimento da prevalência de diabetes tipo-2 e doenças cardiovasculares, associadas ao excesso de peso e obesidade, além de manejos para redução do açúcar em alimentos e bebidas2.

Para que este acordo fosse seguido, sem que houvesse rejeição dos produtos pelo consumidor, utilizou-se como uma das alternativas a substituição do açúcar por edulcorantes não calóricos ou de baixa caloria. Este fato fez com que a comunidade científica se preocupasse com o aumento do consumo desses aditivos alimentares, gerando controvérsias entorno de possíveis eventos adversos como formação de células cancerígenas, ganho de peso, estímulos na absorção de glicose e secreção de insulina, entre outros.

Um dos temas mais polêmicos foi em relação ao risco de carcinogenicidade, já que estudos realizados na Itália sugeriram crescimento de tumores em cobaias que consumiram aspartame e sucralose. Estes estudos foram criteriosamente avaliados por instituições reconhecidas mundialmente como a European Food Safety Authority (EFSA), Food and Drug Administration (US-FDA) e National Toxicology Program (NTP), que levaram em consideração, principalmente, as falhas nos desenhos experimentais, que não seguiram os protocolos internacionais recomendados pela Organisation for Economic Co-Operation and Development (OECD).

Outro tema em destaque levou em consideração o possível envolvimento dos edulcorantes com o aumento da ingestão de alimentos, ganho de peso e intolerância à glicose. Supõe-se que com o aumento da prevalência de obesidade, o consumo de alimentos com baixas calorias, incluindo os que contêm edulcorantes, também aumentou. Sugere-se que a grande preocupação viria pela ingestão feita por crianças e adolescentes, gerando questionamentos quanto aos possíveis distúrbios provocados na percepção do gosto doce, que poderia alterar também o apetite e levar ao aumento do peso. Entre as discussões, considerou-se a revisão realizada pela equipe do Dr. Peter Rogers, publicada na International Journal of Obesity, em 2016, que sugere que ainda não há evidências científicas que provem que possa haver alterações na percepção do dulçor e que o risco de aumento de peso é mínimo. Mas recomenda também que mais estudos comportamentais sejam realizados para que se possa avaliar tais evidências.

A ingestão de edulcorantes por gestantes e possíveis consequências para a prole também foram investigadas por diferentes estudos. Destacaram-se dois trabalhos desenvolvidos na região da Escandinávia, que avaliaram a ingestão de bebidas carbonatadas adoçadas ou não com edulcorantes por gestantes. As publicações geraram resultados controversos, principalmente pelas condições das gestantes, que envolviam obesidade e tabagismo. Outras evidências em animais também foram discutidas, como a possível presença de edulcorantes no leite materno ou a alteração da microbiota em cobaias. No primeiro caso, verificou-se que as concentrações identificadas no leite materno foram mínimas e alguns edulcorantes não foram identificados. No caso de possíveis alterações na microbiota, entende-se que há muitas variáveis, principalmente metabólicas e que envolvem a dieta individual, além da falta de estudos clínicos para se tomar decisões reais diante de tais suposições.

Esclareceu-se nos eventos que todos os edulcorantes aprovados até o momento foram avaliados por comitês internacionais como Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA) e European Food Safety Authority (EFSA), além de outras agências, demonstrando que a adição desses compostos, quando utilizados de acordo com suas recomendações tecnológicas e respeitando os níveis aceitáveis de consumo, como a Ingestão Diária Aceitável (IDA), são seguros para o homem. Os especialistas também entraram em um consenso de que os achados relacionados aos possíveis eventos adversos provocados por edulcorantes não eram suficientes para dar suporte a possíveis modificações no status regulatório desses aditivos e os dados de avaliação de exposição estavam muito abaixo da IDA. No entanto, é importante enfatizar que o consumo de aditivos alimentares seja constantemente monitorado para que se evite uso inadequado desses produtos por certos grupos populacionais, principalmente crianças, para garantir que não haja exposições acima dos níveis recomendados de ingestão.

 

Referências:

  1. Maluly HDB, Johnston C, Giglio ND, Schreiner LL, Roberts A, Abegaz EG. Low- and No- Calorie Sweeteners (LNCS): critical evaluation of their safety and health risks. Food Sci. Technol. 2020, 40(1): 1-10. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-20612020000100001&script=sci_abstract. Acesso em janeiro/2020.
  2. WHO. Guideline: sugars intake for adults and children. Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/9789241549028. Acesso em junho/2019.