ILSI em Foco – dezembro/19 – Entrevista

Conheça a Força-Tarefa Biotecnologia

Avaliação da segurança de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) à saúde humana, animal e ao meio ambiente. 

Por Dra. Deise Capalbo – Coordenadora Científica da Força-tarefa Biotecnologia

 

Quais as principais áreas de atuação da Força-Tarefa?

Nosso objetivo é auxiliar no melhor entendimento dos aspectos científicos relacionados à segurança alimentar, ambiental e benefícios com o uso de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e de produtos da Biotecnologia. Assim, atuamos em desenvolvimento de textos (publicações técnico-cientificas, folders, divulgação na mídia), organização de eventos para diversos públicos e discussões internas com especialistas convidados para estarmos atualizados com o mais recente da ciência.  Com isso oferecemos, nas diferentes atividades, informação científica atualizada que seja útil no desenvolvimento e capacitação dos técnicos da iniciativa privada, governamental e da área acadêmica em assuntos relacionados à biossegurança.  Também contribuímos com as demais FT e com as iniciativas do ILSI Research Foundation, quando o assunto é a segurança dos OGMs.

 

Quais ações da FT você gostaria de destacar?

Há várias ações que merecem destaque, mas vou listar algumas:

Houve um período (final dos anos 1990 e início dos anos 2000) em que a FT foi muito importante para oferecer argumentos científicos para as discussões e responder a incertezas que se faziam presentes naquele cenário – os primeiros OGM estavam próximos a ser oferecidos comercialmente no Brasil e no mundo. A organização de eventos, pela FT, que reuniram diversos especialistas (brasileiros e de diferentes países), permitiu um ambiente muito construtivo e com base em ciência de ponta, aportando interessantes dados e conclusões que puderam subsidiar organizações e até mesmo o governo e grupos da academia.

Outra atuação importante da FT é observar as controvérsias existentes sobre o tema da segurança dos OGM e buscar formas de oferecer “respostas” com base na melhor ciência existente. Nesses casos, a FT buscou interação com especialistas em comunicação para que as “respostas” fossem oferecidas em formatos adequados e interessantes, para que os públicos interessados pudessem tirar suas próprias conclusões. Isso segue acontecendo. Exemplo a participação da FT no evento Pint of Science em 2019.

Finalmente, gostaria de destacar que a composição da FT com cientistas da academia e da indústria, cria um ambiente muito positivo e construtivo para estarmos alertas para pontos de maior interesse e impacto que se apresentam ao longo do ano, e assim, podemos nos adiantar para buscarmos respostas científicas a pontos relevantes que envolvam a segurança dos OGM.

 

Como tem sido o contato entre o ILSI Brasil e os profissionais das áreas que a sua Força-Tarefa atua?

A FT está sempre em contato com vários profissionais das áreas que dão base à garantia da segurança de OGM – e são várias as áreas! Como comentei antes, os assuntos vão desde as ciências biológicas, exatas, de saúde, até questões sociais e ambientais. Para manter essa rede de informações e colaboração, participamos de eventos científicos que envolvam nomes e áreas de ponta da ciência, nacionais e internacionais, convidamos nomes de destaque para nossas conversas e eventos, e, ainda, contamos com muitos deles como colaboradores em nossas atividades de desenvolvimento de material de divulgação.

O que nos chama a atenção é a disposição que encontramos nos profissionais em colaborar com nossas iniciativas, entendendo a importância e destaque dos temas que focamos. Analisar as perspectivas que os OGM trazem e entender os diversos temas envolvidos, nos motiva – e aos nossos colaboradores – a buscar a melhor ciência para responder ou atender tais demandas. Sabemos que sempre há espaço para expandir nossa rede de colaboração, e estamos abertos e atentos a isso.

 

Quais os próximos temas que serão abordados nas ações da FT? O que vem pela frente?

No próximo ano teremos uma publicação cientifica sobre assunto que vimos discutindo há uns 2-3 anos junto com o ILSI Argentina, na forma de workshops, palestras e discussões focadas. Essa é apenas uma das formas de atuarmos e desenvolvermos de forma coordenada e fundamentada nossos temas: a ciência é válida para todos, e assim, a cooperação com outros países que tem os mesmos interesses e obstáculos a superar, só nos faz mais bem equipados para o conhecimento e obtenção de respostas sólidas. Entendemos que a publicação cientifica não ficará estanque se soubermos desdobrá-la e apresentá-la a outros públicos com uma linguagem adequada, e é isso que faremos após sua publicação.

Também estamos atentos a eventos já consolidados como fóruns de destaque no assunto da segurança dos OGM, e buscamos colaborar na sua construção e na garantia de haver uma ciência sólida a ser compartilhada. No próximo ano teremos alguns eventos em que apresentamos intenção de colaborar, com a organização de mesas redondas e palestras. Eventualmente, pensamos em trazer especialistas do exterior para oferecer outras visões sobre o tema dos OGM, para desmistificar o assunto, mostrar a base cientifica que dá garantia de segurança e oferecer exemplos dessa segurança, quando for o caso.

Sabemos que sobre o assunto dos OGM muitas dúvidas foram respondidas e medos foram superados após esses mais de 20 anos de uso comercial. Como vemos, não aconteceram desastres ou impactos antevistos; muitas liberações se mostraram acertadas e seguras efetivamente. Entretanto, seguimos observando o cenário/avanços das pesquisas e também o cenário regulatório em que esses produtos são usados e liberados. Muito se questiona hoje em dia sobre a necessidade e ou complexidade e extensão de informações solicitadas para garantia da segurança. Será que as perguntas apresentadas nos primeiros anos foram respondidas com o histórico de uso que hora se apresenta? Ampliou-se a familiaridade com o tema? novas perguntas precisam ser respondidas? Será que algo novo pode exigir novas frentes de pesquisa? Existem questões que persistem e carecem de esclarecimento forte e bem embasado em ciência? Para que não se percam oportunidades por omissão ou má informação, nem se enverede por perguntas inadequadas enquanto outras importantes são desprezadas, a FT segue com suas reuniões mensais (e até mais frequentes, quando requisitada) discutindo o que de mais atual puder ser feito.

 

Nos fale um pouco sobre você e seu trabalho.

Sou Engenheira de Alimentos formada na Unicamp onde também fiz meu mestrado e doutorado em Bioengenharia. Fui professora na Unicamp e na Puccamp no tema da Bioengenharia com maior foco nos processos fermentativos, por pouco mais de um ano.

Sou pesquisadora da Embrapa em seu centro de pesquisa sobre impactos ambientais (Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna/SP) há 35 anos, atuando no tema do controle de pragas da agricultura por microrganismos benéficos (o chamado “controle biológico”). Mais especificamente, me especializei em produção de microrganismos (Bacillus thuringiensis em especial, mas não restrito a) e, por interação com colegas agrônomos, aprendi muito sobre os organismos benéficos e pragas do ambiente agrícola, suas interações e formas de manejo.

Creio que por essa experiência em produzir um organismo e por ter aprendido a enxergar como esse organismo impacta e interage com o seu entorno (os “organismos não alvo” do controle) compreendi os princípios de uma “Análise de Risco” de forma prática, e por isso, fui convidada a discutir temas da segurança ambiental desde minha entrada na Embrapa, e tive oportunidade de participar de fóruns com órgãos regulamentadores e fiscalizadores, o que , de certa forma, acabou influenciando meu trabalho de pesquisa mais recente.

Desde 1998 participei de discussões sobre a construção e importância dos OGM, uma vez que no seu início envolvia o conhecimento da forma de ação e atividade biológica da bactéria B. thuringiensis. Pude agregar a isso minha experiência (de convivência diária) com Análise de Risco, Impactos Ambientais, Comunicação de Risco, o que direcionou meus trabalhos de laboratório para estudos com a toxina de B. thuringiensis (ou melhor, sua permanência e ou degradação no meio ambiente) e seus efeitos sobre organismos não alvo.

Como se espera de um pesquisador, publiquei capítulos de livro, trabalhos científicos, teses, documentos e relatórios; orientei trabalhos de Iniciação Cientifica; Co orientei trabalhos de Mestrado e Doutorado; participei de bancas; ofereci algumas aulas em cursos nacionais e internacionais. Coordenei projetos de pesquisa nacionais, inclusive o que abordou a Análise de Risco dos OGM desenvolvidos pela Embrapa. Também colaborei como coordenadora nacional em projetos de pesquisa internacionais que discutiram os impactos ambientais e alimentares dos OGM (de forma ampla). Participei de Fóruns internacionais sobre Biossegurança dos OGM, palestras, cursos, Congressos e eventos de capacitação nesses temas. Pude compartilhar minhas experiências e, mais que tudo, receber mais conhecimento e abrir minha percepção da ciência e seus impactos em nossas vidas. Recebi prêmios, mas também fui criticada. Uma vida plena de pesquisa.

Minha principal conquista, creio, foi poder receber conhecimento compartilhado por especialistas mundiais em assuntos incríveis, e poder viver o suficiente para compartilhar com outros colegas no país.

Sou membro do ILSI desde 2008, e isso tem me oferecido oportunidades de desenvolvimento ainda maiores. Mas, mais que tudo, a atuação na FT tem me dado oportunidade de interação com a Industria e o Governo num outro nível, permitindo, do meu ponto de vista, expandir minha rede de contatos, expandindo oportunidades de afirmar o quanto a ciência é importante em nossas vidas, e o quanto a base cientifica é essencial para nossa segurança.