ILSI em Foco – abril/2020 – opinião do especialista

Micronutrientes, sistema imune, idosos e Coronavírus

Nessa pandemia provocada pelo novo coronavírus, terão melhores condições de vencer aqueles que estiverem com o sistema imunológico adequado.

Lembrando que esse sistema é constituído por um conjunto de células, que têm como função proteger o organismo contra qualquer substância ou microorganismo que não for por ele reconhecido. Portanto, o papel da nutrição é manter esse sistema atuante, fornecendo ao organismo os nutrientes com potencial de modular a resposta imune.

Os minerais e as vitaminas fazem parte desse grupo de nutrientes, podendo-se incluir, também, os compostos bioativos encontrados nos alimentos (muito estudados na atualidade, mas que ainda não foram incluídos no rol de nutrientes) e os pré e probióticos, que poderiam ter alguma ação.

Dentre os micronutrientes mais estudados nesse sentido, encontram-se o zinco (Zn), as vitaminas A e D, o selênio (Se) e a vitamina C.

Considerando que o grupo de maior risco para a Covid-19 é o dos mais idosos, podemos enumerar alguns fatores que podem contribuir para esse achado:

  1. Consumo de dietas desbalanceadas, devido a aspectos sociais, renda, isolamento, dificuldade de aquisição e preparo de alimentos;
  2. O idoso tem a sensação de sede diminuída, o que leva ao menor consumo de água e consequentemente menor hidratação, com diminuição da secreção de saliva e dificuldade para mastigação dos alimentos;
  3. Próteses mal ajustadas, dificultam o consumo de alimentos como carnes, vegetais fibrosos, gerando dietas monótonas e mais seletivas;
  4. Diminuição da secreção de ácido clorídrico, dificulta a absorção de vitamina B12 (fator intrínseco) e de minerais (meio ácido favorece absorção);
  5. Diminuição das secreções enzimáticas prejudicam a digestão dos alimentos;
  6. A deficiência de nutrientes essenciais, diminui a resposta do sistema imune, levando a infecções frequentes, doenças crônicas, com necessidade de uma grande diversidade de medicamentos (Polifarmácia), e à interação fármaco-nutriente.

Portanto, os fatores listados acima, contribuem para o maior risco de efeitos graves, o que tem se confirmado.

 

Sobre os micronutrientes para proteger o organismo mais estudados:

Zinco
Dentre os nutrientes citados, o Zn é o mineral que possui maior importância para o sistema imune. Pode ser encontrado nas carnes, nos mariscos (ostra muito rica), vísceras, fígado, peixe, ovos e cereais integrais.
Indivíduos que optam por dietas vegetarianas podem ter deficiência, principalmente, se forem vegetarianos estritos. Em geral, idosos possuem deficiência de Zn, que pode muitas vezes ser observado pela sensação de diminuição do paladar.

Vitamina A
A vitamina A também apresenta propriedades imunomoduladoras, podendo ser encontrada na forma ativa pré-formada (retinol) em alimentos de origem animal, bem como nos seus precursores carotenoides, provenientes dos vegetais, com biodisponibilidade bem inferior àquela do retinol.
Os alimentos mais ricos em vitamina A são o fígado e óleos de fígado de peixes (ex. bacalhau) e de carotenoides, os vegetais verdes escuros e alaranjados.
Ressalta-se que, como as demais vitaminas lipossolúveis, que possuem como característica ser solúveis em gordura e se acumular no organismo, o excesso pode se tornar tóxico, portanto, muito cuidado deve ser tomado com os idosos, principalmente se apresentarem comprometimento renal.

Vitamina D
A Vitamina D – contribui para a função adequada do sistema imune -, embora sua função principal seja no tecido ósseo. A exposição aos raios solares UV-B, tornam possível a síntese desta vitamina pela pele humana. Óleos naturais de fígado de peixes, alimentos fortificados, suplementos medicamentosos, principalmente em países de clima frio que dificultam a exposição solar, contribuem para manutenção das concentrações sanguíneas adequadas.
A deficiência dessa vitamina foi observada na população infectada pelo novo coronavírus, entretanto, tal fato já poderia ser esperado, considerando que esses pacientes contraíram a doença em pleno inverno, com condições climáticas que não permitiam uma exposição solar adequada, e, além disso, a presença do 7-deidrocolesterol na pele que é ativada pelos raios UV-B para a síntese da vitamina D, está diminuída nas pessoas mais idosas.
Por outro lado, embora o Brasil seja um país tropical, com incidência de sol adequada, muitas vezes, provavelmente, devido ao uso de protetores solares, tem-se observado grande parcela da população com baixas concentrações sanguíneas dessa vitamina.

Selênio
Em relação ao Se, sua principal função se dá pelo seu poder antioxidante, mas também com ação no sistema imune. Lembrando que a resposta do sistema imune pode aumentar a produção de radicais livres, e, embora importante para a defesa contra os agentes nocivos, em excesso podem causar danos aos órgãos, portanto, substâncias antioxidantes, protegem os órgãos neutralizando esse excesso.
O alimento mais rico em Se é a castanha-do-brasil, sendo que o teor encontrado em outras fontes depende da quantidade do elemento no solo de cultivo.

Vitamina C

Finalizando, a vitamina C, maior antioxidante do organismo em meio aquoso, vem sendo estudada há muito tempo para prevenção e cura de doenças, incluindo as do trato respiratório. Entretanto, apesar de muito consumida, até hoje não existem dados científicos robustos de seu efeito.
Em relação a resfriados comuns e gripes, foi observado que pode auxiliar, contribuindo para a diminuição do tempo de duração dos episódios infecciosos.
Frutos cítricos, acerola, goiaba são fontes ricas de vitamina C.

Conclusão
Portanto, uma alimentação adequada e saudável pode contribuir para a melhor resistência à infecção pelo novo coronavírus, entretanto, isso não ocorrerá de um dia para o outro. A alimentação deve ser cuidada no dia a dia, com orientação individual para maior sucesso. Além disso, minha recomendação no momento atual é de suplementação com minerais e vitaminas para idosos, procurando no mercado formulações que contenham doses baixas, próximas das recomendações de ingestão, que poderão auxiliar a melhorar o estado nutricional geral.

 

Referências Bibliográficas

  1. Cozzolino,SMF. Biodisponibilidade de Nutrientes 5ed. 2015, Editora Manole,Barueri-SP.
  2. Cominetti,C. & Cozzolino,SMF – Bases Bioquímicas e Fisiológicas da Nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença, 2ed 2020, 1378p. Editora Manole,Barueri-SP.

Profa Dra Silvia Maria Franciscato Cozzolino, nutricionista, Profa. titular da FCF-USP, pesquisadora da área de Nutrição – Minerais.