ILSI em Foco #3 / artigo

Compostos Bioativos em Alimentos

Prof. Dr. Paulo Cesar Stringheta, Professor Titular da UFV, Membro da Diretoria Científica do ILSI-Brasil.

 

A associação de hábitos de vida saudáveis e o consumo de determinados tipos de alimentos com a saúde da população é uma constatação antiga, que somente nas últimas décadas ganhou um maior impulso, direcionando a pesquisa para a busca de evidências científicas que possam explicar os mecanismos de ação de cada um dos componentes dos alimentos, que contribuem para a melhoria do estado geral da saúde dos indivíduos.

Evidências epidemiológicas e ensaios clínicos têm sugerido que dietas ricas em vegetais podem reduzir os riscos de incidência de algumas doenças crônicas não transmissíveis. Os compostos bioativos são substâncias encontradas nos alimentos, como os polifenóis, carotenóides, probióticos e prebióticos, compostos sulfurados e nitrogenados, pigmentos e vitaminas, ácidos graxos poliinsaturados e fibras. São reconhecidos por suas propriedades benéficas à saúde humana e, em sua maioria, metabólitos secundários, considerados constituintes extra nutricionais e ocorrem, tipicamente, em pequenas quantidades nos alimentos.

Geralmente, estão relacionados com os sistemas de defesa das plantas contra a radiação ultravioleta ou as agressões de insetos ou patógenos. (4). Portanto, compostos bioativos são os compostos essenciais (vitaminas) e não-essenciais (polifenóis) que ocorrem na natureza, como parte da cadeia alimentar, e podem apresentar efeitos benéficos à saúde humana. Podem ser definidos como substâncias bioativas presentes como constituintes naturais no alimento, que promovem uma ação adicional na alimentação, possibilitando maiores benefícios à saúde (3).

Mecanismos de ação:

Os compostos bioativos podem agir de diferentes formas, tanto no que se refere aos alvos fisiológicos, como aos seus mecanismos de ação.

Sua ação antioxidante, muito estudada nos últimos anos, deve-se ao potencial de óxido-redução de determinadas moléculas, à capacidade dessas moléculas em competir por sítios ativos e receptores nas diversas estruturas celulares. De forma sucinta, esses antioxidantes agem como estruturas de limpeza removendo as espécies reativas rapidamente antes da espécie ativa atacar biologicamente a molécula essencial.

Cada composto ativo (antioxidante) tem seu mecanismo de ação, e pode ser classificado como antioxidante preventivo, que funciona como primeira linha de defesa para impedir formação de oxigênio reativo e espécie nitrogênio (ROS/RNS), como por exemplo, a superóxido dismutase (SOD), que converte a peróxido de hidrogênio, podendo ser reduzido pela hidrogênio peroxidase e hidroperoxidases dos lipídios em água e hidroxilase de lipídeo ou por metais como ferro e cobre.

Uma outra possibilidade é que a ação antioxidante se deva à modulação da expressão de genes que codificam proteínas envolvidas em mecanismos intracelulares de defesa contra processos oxidativos degenerativos de estruturas celulares, como DNA e membranas (2).  Os carotenóides retiram uma molécula de oxigênio física e quimicamente.

Muitos compostos fenólicos e aminas aromáticas agem como antioxidante de limpeza dos radicais livre. Esses antioxidantes de limpeza agem como segunda linha de defesa in vivo. Várias enzimas funcionam na terceira linha de defesa por reparar o dano, limpar as wastes, e restabelecer as funções perdidas (7). Esse mecanismo funciona como adaptação funcional, sugerindo ser uma quarta linha de defesa, na qual o antioxidante apropriado é transferido para posição certa, na concentração e tempo corretos. Portanto, existem evidências crescentes mostrando que alguns antioxidantes agem como mensageiros de sinalização celular para regular os níveis de compostos antioxidantes e enzimáticos e cada composto ativo tem seu mecanismo de ação.

Alegações de Função e de Saúde

Os radicais livres são gerados durante o metabolismo normal e podem causar danos as moléculas biologicamente relevantes. Quando sua geração é aumentada, os danos também podem aumentar, resultando no desenvolvimento de muitas condições patológicas. Defesas antioxidantes protegem o corpo dos efeitos negativos dos radicais livres. Esses antioxidantes podem ser encontrados em frutas e vegetais presentes na dieta. Esses alimentos possuem uma quantidade razoável de compostos que agem como antioxidantes fisiológicos (6). Entende-se que o estresse oxidativo é causado justamente pelo excesso desses radicais livres que podem ser desencadeados pelo estilo de vida e situações patológicas e, tem sido relacionado a doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças crônicas que respondem por grande parte das mortes na atualidade (1). Em adição, outro fator importante a considerar é o envelhecimento, uma vez que, com o envelhecimento essas defesas antioxidantes decrescem e a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) aumentam, o que também ocorre com os exercícios físicos. Embora o treinamento moderado provoque uma série de respostas favoráveis e melhoria da saúde física em pessoas idosas, o exercício regular pode ser acompanhado de suplementação antioxidante para atingir um nível ótimo de defesa contra a geração de radicais livres associados ao envelhecimento e ao exercício (6). Portanto, uma dieta saudável e atividade física adequada são fatores importantes na promoção e manutenção da saúde.

Muitos pesquisadores acreditam que o consumo de frutas e vegetais está associado com a diminuição das doenças crônicas não transmissíveis incluindo câncer e doenças cardiovasculares (5). Ao mesmo tempo, alguns estudos evidenciam que existem indivíduos que mesmo ao ingerir quantidades ótimas do micronutriente podem apresentar um risco de desenvolver essas patologias. Isso ocorre, especialmente porque esses indivíduos possuem mudanças de um nucleotídeo na sequência do DNA (polimorfismo) de uma enzima ou as muitas enzimas envolvidas no metabolismo ou distribuição do micronutriente em questão. Esse polimorfismo resulta em baixa concentração ou função inadequada do micronutriente com possibilidade de complicações na saúde. Adicionalmente, a ciência tem evoluído e a biotecnologia tem levado a descobertas nutricionais, inovando os produtos e dinamizando a área da pesquisa resultando em um aumento de produtos com atividade antioxidante, porém,  ainda são necessários estudos para definir melhor essa atuação na saúde humana(3).

A identificação dos benefícios das substâncias bioativas relacionados com a baixa incidência de alguns tipos de distúrbios como câncer e doenças cardiovasculares, vem contribuindo para o aumento do consumo de alimentos ricos em bioativos. Há evidências que a melhoria do estado geral da saúde das pessoas, não está associada apenas ao conteúdo de nutrientes essenciais nos alimentos, demonstrando que outros constituintes podem exercer uma atividade fisiológica, contribuindo de forma significativa para o bem estar da população. Assim, o direcionamento das pesquisas, tem priorizado os aspectos positivos da dieta, identificando componentes que são fisiologicamente ativos e contribuem para a redução do risco de algumas doenças. Os efeitos benéficos atribuídos a estes compostos bioativos podem estar associados a uma combinação de vários bioativos, atuando como um somatório, por meio de uma ação sinergística.

Pesquisas nesta área podem ser importantes no sentido de se avaliar o consumo destes alimentos, levando-se em consideração os seus efeitos benéficos, a sua segurança e a sua contribuição para uma alimentação mais saudável com reflexos positivos na saúde da população.

 

  1. ABE, L. T., LAJOLO, F. M., GENOVESE, M. I., Comparison of phenol content and antioxidant capacity of nuts, Ciênc. Aliment. vol.30, Campinas, 2010.
  2. BASTOS, DEBORAH H. M; et al. Mecanismos de ação de compostos bioativos dos alimentos no contexto de processos inflamatórios relacionados à obesidade. Effects of dietary bioactive compounds on obesity induced inflammation. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/5
  3. BIESALSKI, HANS-KONRAD; et al. Bioactive compounds: Safety and efficacy. Nutrition 25; 1206–1211, 2009.
  4. CARRATU, E. & SANZINI, E. ―Sostanze biologicamente attive presenti negli alimenti di origine vegetable‖. Ist.Super Sanità, 41 (1), p.7-16, 2005
  5. ERDMAN JR., John W.; FORD, Nikki A.; LINDSHIELD, Brian L. Are the health attributes of lycopene related to its antioxidant function? Archives of Biochemistry and Biophysics 483 (2009) 229–235
  6. HERRERA, E. JIMÉNEZ, R.; ARUOMA, O.I.; HERCBERG, S.; SÁNCHEZ-GARCÍA, I.; FRAGA, C. Aspects of antioxidant foods and supplements in health and disease. Nutrition Reviews, v. 67(1), p.S140-S144, 2009
  7. NIKI, ETSUO. Review Article: Assessment of Antioxidant Capacity in vitro and in vivo. Free Radical Biology & Medicine 49 (2010) 503–515. 35