XI Congresso Nacional / Reunião Anual ILSI Brasil

Construindo Sociedades Resilientes
Sessão Virtual, Brasil
23/11/2021 – 24/11/2021
17:00 – 19:00
Zoom

Como construir uma sociedade resiliente?

 A programação da Reunião Anual ILSI Brasil reuniu profissionais renomados em busca de respostas

Nos dias 23 e 24 de novembro, o ILSI Brasil realizou a XI Reunião Anual com o tema “Construindo sociedades resilientes”. O presidente da Instituição, Dr. Luiz Henrique Fernandes, abriu o evento sublinhando as dificuldades, além da capacidade de superação que a pandemia trouxe, tanto no campo profissional como no pessoal. Com o ILSI não foi diferente. Entre as adaptações necessárias, inclui-se a programação on-line da agenda científica de 2021. Foram 15 webinars em todas as Forças-tarefas. “Nossa atuação científica permaneceu de forma bastante atuante e enriquecedora. Tivemos uma adesão grande de profissionais de saúde, atingindo nossa função de fomento à ciência”, declarou.

Na sequência, a diretora executiva do ILSI Brasil, Flavia Goldfinger, exibiu um vídeo de apresentação das atividades do Instituto e passou a palavra para Dra. Deise Capalbo. Coordenadora do evento e membro da diretoria do ILSI Brasil, além de pesquisadora Embrapa Meio Ambiente, Capalbo mediou os dois dias do encontro. Sobre a escolha do tema para esta edição, ela enfatizou que “a pandemia, ao longo de quase dois anos, continua impactando nosso dia a dia. Nós realmente queremos construir uma sociedade resiliente e auxiliá-los nestas reflexões por meio do nosso Congresso”.

 

Tempo é um recurso escasso
Andre Lima, da Ascend Consulting, iniciou o ciclo de encontros com a palestra magna “Gerenciamento do tempo”. Ele foi específico ao afirmar que tempo é um recurso escasso pelo fato de não ser possível comprá-lo, tão pouco gerenciá-lo. “Logo, a necessidade de ter clareza das prioridades e urgências para que se possa gerenciar as tarefas. Produtividade nada mais é que resultado com equilíbrio”, disse. A reflexão proposta por Lima está relacionada aos papéis vivenciados no dia a dia. Quanto tempo você dedica para desempenhar cada um deles dentro da sua rotina?

Outro ponto crucial refere-se ao controle dos dois piores ladrões do tempo: sempre dizer sim e usar o aparelho celular de maneira indiscriminada. Certamente aprender a dizer não abrirá espaço na lista de tarefas, alerta o palestrante. Mas, para vencer este primeiro ladrão é preciso superar o medo do conflito que uma negativa pode gerar. A respeito do celular, o consultor informa que o tempo médio de uso do brasileiro alcança 4 horas e 48 minutos por dia, com cerca de 180 desbloqueios de tela. Além disso, pesquisas apontam 1/5 da população brasileira é procrastinadora crônica. A solução? “Identifique o horário que você está mais desperto e atento e execute as atividades menos prazerosas ou mais complexas neste período”.

 

Pesquisa clínica garante a segurança de novos produtos
A segunda palestra do evento, “Aspectos científicos da aprovação das vacinas do Brasil”, esteve à cargo do médico, pesquisador e professor Dr. Dimas Covas. Após contextualizar a temática, a partir da perspectiva de diretor do Instituto Butantan, Covas apresentou os desafios científico, tecnológico, regulatório, logístico e político no enfrentamento da pandemia.

“O desenvolvimento de uma vacina em um curto espaço de tempo e durante uma pandemia é inédito na história e marca o desafio científico. Isso foi possível por existirem plataformas vacinais já desenvolvidas para o coronavírus, como o caso da CoronaVac - existente contra o SARS em decorrência da epidemia ocorrida em 2002. Por este motivo, inclusive, o Butantan se associou à Sinovac”, ressaltou o palestrante. “Havia grande incerteza se outras tecnologias chegariam ao final do desenvolvimento de uma vacina. Escolhemos o caminho mais conservador, investimos em uma tecnologia conhecida e que dominávamos, o que explica parte do nosso sucesso”, declarou.

Parte do desafio científico se agrega ao desafio tecnológico, que incluía a necessidade de fábricas no país, visto que apenas o Butantan e a Fiocruz produzem vacinas em território nacional. No que diz respeito à regulamentação, a Anvisa exigiu estudos clássicos, assim como outras agências regulatórias no mundo, impactando na aprovação do uso emergencial do imunizante. O Instituto ainda considerou a diversidade geográfica do Brasil na escolha da CoronaVac pela facilidade de conservação do produto e, consequentemente, na logística de distribuição. No entanto, para Dr. Dimas Covas, o maior dos desafios foi o político, em razão do negacionismo institucionalizado.

 

Desafios para realização de estudos clínicos no Brasil
A diretora educacional na ABRACO, Dra. Juliana Santoro, começou sua apresentação, “Desafios da pesquisa clínica no Brasil,” fazendo referência à palestra anterior. Ela disse que poderia seguir a partir do último slide do Dr. Dimas, que trazia os desafios científico, tecnológico, regulatório, logístico e político. Antes de entrar no cerne da temática proposta, a palestrante trouxe a definição do que é pesquisa clínica e para que serve, de acordo com a Anvisa. Depois listou os benefícios dos estudos clínicos no Brasil para os investigadores locais – como é o caso do Butantan –, bem como para os profissionais da saúde, para os serviços de saúde pública e, ainda, para a indústria farmacêutica, que são os patrocinadores das pesquisas realizadas, na maioria das vezes.

Dra. Juliana escolheu três desafios para abordar: a pesquisa em si, que pode apresentar insegurança e ineficácia no meio do caminho; os entraves regulatórios, que, muitas vezes, deixa o Brasil de fora da realização de pesquisas clínicas; e o tecnológico. “Embora a modernização do processo e o desenvolvimento tecnológico tenha acelerado com a pandemia, ainda há muito o que melhorar e crescer neste sentido, se o Brasil quiser continuar competitivo”, frisou.

Para se ter ideia, o país ocupa o 25º lugar no ranking de 2019 de participação de países em estudos clínicos. Mesmo diante deste cenário, a diretora educacional na ABRACO acredita no potencial brasileiro. “O SUS atende cerca de 165 milhões de pessoas, o que é uma condição a ser considerada”, afirma. Para finalizar, ela listou os benefícios dos estudos clínicos no Brasil para os pacientes e pontuou: “Nada é mais importante do que a vida de cada um e a gente precisa manter esse foco e essa atenção.”

É urgente a transformação dos sistemas alimentares
A abertura do segundo dia do evento ficou por conta da Dra. Monika Zurek, da University of Oxford, com a palestra Sustentabilidade e resiliência dos sistemas alimentares”. Muito antes da pandemia, de acordo com Zurek, já existia a discussão em torno da construção de uma sociedade resiliente. Mas, para que isso ocorra é fundamental a transformação dos sistemas alimentares. A pandemia legitimou tal afirmação ao mostrar a vulnerabilidade do atual sistema alimentar globalizado e onde tais incertezas residem, como os problemas de abastecimento em diversos países e pessoas com dificuldade de acesso aos alimentos em decorrência do aumento do preço.

“Se a COVID-19 provocou tantas mudanças nos sistemas alimentares, em um curto período, de que maneira vamos lidar com os riscos globais que o Fórum Econômico Mundial apontou em seu relatório?”, questionou a especialista. De acordo com a Dra. Monika, para alcançar metas de desenvolvimento sustentável, é necessário entender o funcionamento dos sistemas alimentares, o que impulsiona as decisões dos tomadores de decisão desses sistemas e como eles estão preparados para lidar com os riscos que estão por vir.

 

COVID-19 e o meio ambiente
“Impactos ambientais da COVID-19” foi o tema da segunda palestra do dia, ministrada pelo Dr. Douglas McIntosh, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Após uma breve explicação acerca da origem da COVID-19 causada pelas atividades humanas no meio ambiente, o pesquisador destacou o impacto positivo do lockdown ao redor do mundo em termos de redução de emissão de CO2. McIntosh apresentou a expressão “antropausa” - nome que a ciência deu para esta pausa de emissão de gases e outros poluentes. Mas, conforme realçou na sequência, estes benefícios vêm caindo de forma gradual e, para o ano de 2022, está previsto um aumento na produção de gases de efeito estufa até maior que na era pré-pandêmica.

Outro tópico importante salientado pelo palestrante concerne ao lixo hospitalar gerado pelo SarsCoV-2 e descartado de uma forma incorreta, indo parar nos aterros sanitários, degradando gradativamente o meio ambiente. “Os EPI´s são um problema visível. Vamos achá-los na rua, na praia, nos deparar com animais mortos por máscaras, luvas e outros plásticos em seus intestinos ou por estrangulamento. O mesmo vale para pratos, garrafas, talheres são de plástico, usados uma vez só e descartados”, ele diz.

 

Desregulação alimentar na população brasileira
Apresentando “Saúde mental na pandemia e transtornos alimentares”, Dr. Táki Cordás, do HC/FMUSP, abriu sua fala homenageando os 613 mil mortos pela COVID-19 no Brasil. Antes de fechar o foco nos transtornos propostos para a aula, Cordás lembrou os transtornos alimentares enumerados pela 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatísticos de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria: anorexia nervosa, bulimia nervosa, transtorno da compulsão alimentar, transtorno purgativo, transtorno alimentar restritivo-evitativo, síndrome alimentar noturna, síndrome de ruminação e pica. O conteúdo ministrado se deteve nos três primeiros, considerados pelo médico como os mais importantes. De forma suscinta, ele elucidou os critérios de diagnóstico de cada um deles.

Dr. Táki apresentou estudos que revelaram os principais estressores causados pela pandemia, como: a própria quarentena (“quanto mais longa, pior”), mudança de hábitos, incertezas, medo, frustração, tédio, temores, falta de informação, ou pior, informações contraditórias são consideradas extremamente prejudicais. Em relação a esse ponto, ele menciona as fake News e o negacionismo vivenciado ao longo deste período. ”É verdade que a ciência está sempre em transformação, mas a ciência ainda é a informação mais confiável que temos. Então eu acho que passamos por uma verdadeira chacina nesse país.”

Além da cobertura exaustiva e mensagens conflitantes sobre a pandemia na mídia; regras e recomendações sanitárias; redução do número de leitos para internação e atendimento ambulatorial; aparecem entre os fatores estressores. Para o médico, é importante lembrar que dos pacientes com transtorno alimentar, 95% possuem outro transtorno, o que a psiquiatria denomina como comorbidade.

Entretanto, estudos mostraram que a desregulação alimentar acontece em pessoas que estão lidando com o estresse, como foi identificado em profissionais de saúde no país. As alterações de comportamento alimentar, entre outras alterações, são seis vezes maiores que os encontrados na Espanha. “Obviamente o resultado reflete a impossibilidade de utilizar materiais necessários para evitar a contaminação. Médicos e profissionais de saúde brasileiros foram jogados numa guerra sem qualquer arma ou munição”, compara o especialista.

 

Combate à fake News é muito parecido com o combate ao vírus SarsCoV-2
Encerrando o encontro, o jornalista, escritor e editor-chefe da revista Instituto Questão de Ciência, Carlos Orsi, palestrou sobre “Como se proteger das Fake News”. Logo na abertura, ele enfatizou a importância de separar o fenômeno das fake News e o uso das fake News como xingamentos. Orsi relatou que a expressão foi muito popularizada em 2016, por Donald Trump, quando candidato à presidência dos Estados Unidos. Na ocasião, Trump passou a usar a expressão para desqualificar conteúdo jornalístico legítimo publicado a respeito dele.

No sentido mais técnico, fake News é um material que se passa por noticioso, mas tem a intenção de induzir o leitor ao erro, a um comportamento deletério. Para tratar o tema de uma forma um pouco ampliada, o palestrante explicou que a sociedade é composta por um sistema de divisão de trabalho baseado no conhecimento da informação. “Confia-se no engenheiro que construiu o prédio porque ele estudou engenharia; no médico porque ele estudou medicina e possui um registro de conselho ativo, e assim por diante”, exemplifica, para completar, na sequência: “Nenhum individuo conhece tudo. Por isso confiamos em profissionais e outras pessoas que consideramos indicadores indiretos de credibilidade que, por saberem o que estão falando, devem ser levadas a sério”.

Ainda no sentido técnico, a intenção das fake News é a apropriação desses indicadores por agentes maliciosos que querem induzir comportamentos ou manipular crenças, usando informações falsas ou que podem até serem verdadeiras mas são tiradas do seu devido contexto. Hoje em dia, essa ideia do sequestro dos indicadores de credibilidade para viabilizar a circulação e a informação falsa extrapolou as barreiras do jornalismo, se apropriando da credibilidade pessoal de parentes e amigos por de mensagens em redes sociais e WhatsApp, recorrendo à emoção para uso da desinformação.

“Vivemos isso há anos, mas o problema tem se agravado ao longo da pandemia. Quando gera uma crise de confiança das fontes oficiais, as pessoas se voltam para as fontes pessoais”, diz o jornalista.

 

Mas afinal, como se proteger das Fake News?
Manter o senso crítico ativo, o que é muito complicado porque a tentação de compartilhar é muito forte. E se colocar algumas questões: do que estão falando? Esse fato pode ser confirmado?, O apelo emocional é proporcional ao que está sendo dito? A pessoa que me enviou sabe se o conteúdo é verdadeiro e merece ser compartilhado? “Do contrário, a única forma de escapar das fake News, seria tirar tudo do plug e se mudar para uma caverna, o que também não é muito eficiente”, brinca Carlos Orsi.

 

Programação:

23 de novembro de 2021
17h às 19h

Abertura: Palavra dos Presidentes do Congresso 2021 –
Luiz Henrique Fernandes: Conquistas e perspectivas ILSI Brasil 2021.
Deise Cabalbo: Programação Científica Reunião Anual ILSI Brasil 2021.

"Palestra Magna”: Gerenciamento do tempo.
Andre Lima (Ascend Consulting).

Aspectos científicos da aprovação das vacinas no Brasil.
Dr. Dimas Covas (Instituto Butantan).

Desafios da pesquisa clínica no Brasil.
Dra. Juliana Santoro (ABRACRO).

 

24 de novembro de 2021
17h às 19h.

Sustentabilidade e resiliência dos sistemas alimentares.
Dra. Monika Zurek (University of Oxford).

Impactos ambientais da Covid-19.
Dr. Douglas McIntosh (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Saúde mental na pandemia e transtornos alimentares.
Dr. Táki Cordás (HC FMUSP).

Como se proteger das Fake News.
Carlos Orsi (Jornalista, Instituto Questão de Ciência).

 

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